Saúde

Banho de sol não é mais recomendado para bebês, aponta Sociedade Brasileira de Pediatria

Segundo a entidade, recém-nascidos possuem uma camada epidérmica mais fina e menor produção de melanina, e por isso, são mais suscetíveis aos danos


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Foto: Igor Mota / O Liberal

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Você já ouviu falar que a partir dos primeiros meses de vida, é necessário expor o bebê para "tomar banho de sol" pela manhã? A prática é realizada para ativar a vitamina D ou para a redução da icterícia, que é a pele amarelada devido ao acúmulo de bilirrubina no sangue. O banho de sol era e ainda é um hábito muito comum que ultrapassa gerações. No entanto, segundo um documento atualizado este ano pela Sociedade Brasileira de Pediatria, expor o bebê ao sol, mesmo nas primeiras horas da manhã, não é mais recomendado.

O documento ressalta que recém-nascidos possuem uma camada epidérmica mais fina e menor produção de melanina, sendo mais suscetíveis aos danos da radiação ultravioleta. A exposição excessiva ao sol na primeira infância está associada ao aumento do risco de câncer de pele no futuro. Em Belém, a médica pediatra Ana Paula Araújo explica que o sol tem efeitos muito ruins na pele de uma pessoa adulta, imagine na de um bebê. "Uma reflexão que eu sempre levo os pais dos meus bebês a fazerem é que quando a gente vai para o sol, costuma passar protetor solar, usar chapéu e roupas de manga longa. E por que o bebê, que tem a pele mais fina e não usa protetor solar, pode ir para o mesmo sol?", questiona.

Luz do sol não é ideal para ativar vitamina D em bebês

A profissional alerta que a luz do sol não é ideal para quebrar a bilirrubina ou para ativação da vitamina D. "Não faz sentido expor o bebê ao sol devido à bilirrubina, pois não é o tratamento ideal. Em relação à vitamina D, o certo é fazer uma suplementação em crianças a partir da primeira semana de vida até os 2 anos", explica. A Academia Americana de Dermatologia aconselha que a vitamina D seja obtida pela criança via dieta e suplementação, e enfatiza que a exposição solar abaixo de 6 meses, para este fim, não é recomendada.

O documento, em acordo com a Academia Americana de Pediatria, orienta que crianças abaixo de 6 meses não devem ser expostas ao sol. A partir dessa idade, o correto é utilizar protetores mecânicos como sombrinhas, guarda-sóis, bonés e roupas de proteção. O uso de protetor solar não é recomendado nos primeiros 6 meses de vida por falta de estudos de segurança nessa faixa etária. "Os pediatras seguem na batalha de disseminação de informações sobre tantas coisas que antigamente eram feitas e hoje têm comprovação de que não são tão boas assim para o neném. Mas essa é a nossa missão: dar orientações claras e concretas do que é melhor para as nossas crianças, visando sempre um cuidado e uma vida boa para que cresçam bem e saudáveis", diz Ana Paula.

Experiências de mães

Mãe de Ava, de 1 ano e 10 meses, e de Henrique, de 2 meses, a estudante de arquitetura Maria Eduarda Saraiva, de 24 anos, conta que quando Ava nasceu, foi instruída pela pediatra e por outras pessoas a dar banho de sol na criança, por no máximo 10 minutos, nos horários de 9h e 16h. "Eu já achava meio estranho, mas minha mãe recomendava, as pessoas ao meu redor além da pediatra também recomendavam. Após 1 ano e 7 meses, quando tive meu segundo filho, mudou totalmente", diz.

"A camada de proteção da Terra, que nos protege da radiação solar, está mais enfraquecida, então acaba causando mais danos do que melhoras para a saúde da criança", ressalta Maria Eduarda, explicando que, segundo orientações da pediatra, o sol não é mais o mesmo.

A estudante foi orientada pelos médicos que Henrique não tome mais banho de sol e apenas faça reposição de vitaminas. "Damos gotinhas de vitamina D para ele e, quando ele for mais velho, expomos um pouco ao sol. Não é para proibir, é para ser de vez em quando, não colocar a criança no sol o tempo inteiro", relata Maria Eduarda.

Quando questionada se a nova orientação a deixou surpresa, a estudante diz que não. "Sobre o sol, eu não me surpreendi, vi que era verdade e que isso poderia influenciar meus filhos. Acatei na hora e até concordei com a médica, porque acho que realmente é isso que está acontecendo. Tenho uma filha mais velha e um mais novo, quando vou passear com a mais velha, escolho horários mais amenos, coloco chapéu, uso carrinho com proteção UV, às vezes utilizo guarda-sol e passo protetor solar nela, que é muito importante. Protetor solar não é só para adultos, mas para crianças o tempo todo", finaliza.

Riscos de queimaduras e desidratação

A médica pediatra Diana Sato explica que o documento não menciona mudanças climáticas, mas já se sabe que o aumento da temperatura global tem maior impacto em crianças e idosos. A exposição solar em menores de 6 meses tem maior risco de queimaduras e desidratação. "Todos os bebês abaixo de 12 meses devem receber 400 UI de vitamina D diariamente. Acima de um ano, a recomendação é de 600 UI todos os dias. Os recém-nascidos que apresentam suspeita de icterícia devem ser avaliados por pediatra para diagnóstico correto e verificar a necessidade de fototerapia, que é o tratamento seguro. O banho de sol é um hábito cultural de muitas décadas e é sempre difícil mudar um hábito. Com a orientação correta e acesso a profissionais atualizados, esses hábitos vão mudando gradativamente", ressalta.

Apesar das recomendações, o documento também relata que um estudo publicado recentemente apontou que 80% das mães brasileiras entrevistadas ainda acreditam que o recém-nascido deve tomar sol por 10 a 30 minutos. Este estudo também mostrou que há falta de conhecimento sobre os riscos que a exposição precoce ao sol pode causar, já que 76,6% negaram que esse hábito no período neonatal pudesse causar quaisquer problemas no futuro.

O Liberal

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