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O cinema biográfico de Sérgio Resende

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Um dos melhores diretores do cinema brasileiro, Sérgio Resende, realizou longas metragens baseados nas histórias de pessoas reais, dentre eles, "O Homem da Capa Preta" e " Guerra de Canudos", ambos protagonizados pelo excelente José Wilker, que interpretou o famoso deputado estadual Tenório Cavalcante, sempre com sua capa e a metralhadora batizada "Lurdinha". Wilker numa performance irretocável brilha do começo ao fim em "O Homem da Capa Preta" e o resultado foi o Kikito de melhor ator no Festival de Cinema de Gramado, em 1986, consagrando também a produção com mais quatro prêmios - melhor filme (crítica e público), melhor atriz Marieta Severo e trilha sonora.

O longa acompanha a trajetória política de Tenório, os inúmeros atentados à bala sofridos, os revides violentos, as vitórias e derrotas deste que muitos endeusavam enquanto outros o achavam apenas um demagogo e assassino, um político que ficou rico às custas da exploração e da miséria da população de Caixas. Sérgio Resende mostra não o Tenório da vida real, mas um personagem mítico, como se visto através de um fino véu para esconder o homem e seus defeitos. Coisas de cinema.

Quanto a Wilker, parece que encarnou Tenório em todos os detalhes, trejeitos e dizeres. O ator realmente está muito à vontade no papel e sua premiação foi merecida. José Wilker vive momentos antológicos, entre eles, a famosa cena em que obriga um entrevistador (Flávio Cavalcanti) pular de smoking na piscina de sua fortaleza. Na cena final, quando ele engatilha a "Lurdinha" e diz - Eu não sou comunista. Eu não sou fascista. Eu não sou covarde. Sou Tenório. Natalício Tenório Cavalcante de Albuquerque e sou macho!

Já no épico sobre a guerra de Canudos, o ator entrega outra fantástica interpretação ao viver o beato Antônio Conselheiro, fundador de Belo Monte e antirrepublicano fanático. O peregrino reuniu milhares de sertanejos e construiu uma verdadeira cidade, que acabou destruída durante campanha do exército comandada pelo general Artur Costa (José de Abreu). O escritor Euclides da Cunha escreveu sua obra maior "Os Sertões", que conta essa história entre Davi, o povo de Canudos e Golias, o governo federal e as tropas enviadas para dar fim ao arraial.

O longa, com quase três horas de duração, mostra a chegada de Conselheiro no local onde foi construída Belo Monte, a primeira e frustrada investida feita por soldados da polícia militar, que resultou em vitória para os canudenses, desde o princípio subestimados pelas forças públicas. Houve mais três ataques e somente no último Canudos caiu. Longa metragem muito produzido, dirigido com mão firme e contando com elenco de grandes talentos, o citado José Wilker, Marieta Severo, Paulo Betti, Cláudia Abreu, Tuca Andrada, Roberto Bomtempo, e tantos outros.

Neste filme, o cineasta mistura pessoas reais com personagens fictícios para contar sua história. O diretor lembrou que não se trata de um documentário, portanto não teria compromisso em retratar os fatos históricos, daí a necessidade desta mescla, por exemplo, a família de Zé Lucena (Paulo Betti) não existiu e a narrativa inicia a partir do engajamento deles à comitiva do beato. Já os generais Moreira César, "O corta-cabeças" e Artur Costa realmente existiram. Outro personagem fictício é o fotógrafo e jornalista Pedro, que foi inspirado em Euclides da Cunha, inclusive algumas de suas falas da narração em off são de textos do autor de "Os Sertões".

A filmografia de Sérgio Resende inclui mais longas biográficos, "Lamarca, o capitão da guerrilha", o oficial do exército que lutou contra o regime ditatorial, "Mauá, o imperador e o rei", "Zuzu Angel", sobre a estilista morta pela Ditadura Militar e "O Paciente", que conta a agonia de Tancredo Neves. "Salve geral", não é uma cinebiografia, mas reconstitui acontecimentos verdadeiros que ocorreram em São Paulo, em maio de 2006, quando uma facção criminosa deixou a cidade completamente sitiada.

Humberto Oliveira

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