Está cada vez mais raro um livro biográfico que realmente valha a pena adquirir, ler e manter no acervo. Apesar de muitas terem sido publicadas nas duas últimas décadas, são poucas aquelas realmente importantes e vieram para fazer a diferença no mercado editorial.
Eis aqui dois exemplos. Um ruim e outro, digamos, excelente. No começo desta semana comecei a ler "Quando o carteiro chegou...Mensagem a Isaurinha Garcia", de Lulu Livrandi. No meu ponto de vista a biografada merecia um livro melhor. Infelizmente, coloco a obra no mesmo patamar da biografia do saudoso Evaldo Gouveia. O excesso de elogios e repetições desnecessárias colocam o livro em cheque e apesar do texto correto, a autora não foge dos clichês da chamada biografia "chapa branca". O cd encartado salva o livro, mas só um pouco.
"Elisete Cardoso, uma vida", exemplo de excelência em biografia
Com a escassez de bons lançamentos de livros sobre a música brasileira ou biografias de intérpretes e compositores, a solução é retomar algumas leituras, como por exemplo, o excelente livro do pesquisador, jornalista e escritor Sérgio Cabral, pai, claro, "Elisete Cardoso, uma vida", lançada originalmente pela editora Lumiar. Conhecida como "Divina", Elisete entrou para a história da música brasileira como uma das melhores e maiores do seu e de todos os tempos.
Cabral aborda desde a infância, quando deu seus primeiros passos como cantora, sua passagem por várias rádios e programas, a descoberta pelo instrumentista Jacó do Bandolim e relaciona os sucessos que ela gravou e imortalizou, dentre eles, "Canção de amor", que se tornaria um prefixo da artista, "Sei lá Mangueira", "Favela", "A flor e o espinho", "Nossos momentos", "Faceira", "Leva meu samba" e tantas outras joias de compositores como Nelson Cavaquinho, Ataulfo Alves, Evaldo Rui, Ari Barroso, Dorival Caymmi, Hermínio Bello de Carvalho, João Nogueira, Paulo César Pinheiro, Jacó do Bandolim, Sérgio Bittencourt, Chico Buarque. A lista é interminável.
Além de Elisete Cardoso, o mestre Sérgio Cabral, pai, escreveu as biografias de outros nomes importantes da música brasileira, Almirante, Ari Barroso, Pixinguinha, Ataulfo Alves, Nara Leão e Tom Jobim. Também biografou o ator Grande Othello, o cineasta Carlos Manga, escreveu sobre a MPB na era do rádio e sobre a história das escolas de samba do Rio de Janeiro com depoimentos de Ismael Silva, Carlos Cachaça e Cartola. São obras fundamentais, imprescindíveis para quem quer conhecer a história e os personagens da nossa música.
Humberto Oliveira