Divulgação
Combate ao garimpo ilegal exige medidas além da destruição de dragas
O garimpo ilegal no Rio Madeira volta a ser tema debate com a realização de mais uma operação de grande porte determinada pela Justiça Federal. A medida, que resultou na destruição de dezenas de dragas no trecho entre os municípios de Manicoré e Humaitá, no Amazonas, evidencia a dimensão e a persistência do problema. Trata-se de uma atividade que, além de seus impactos ambientais conhecidos, envolve também aspectos sociais, trabalhistas e de segurança pública que precisam ser avaliados de forma equilibrada.
O uso de dragas e balsas adaptadas para a mineração em áreas de difícil fiscalização contribui para a expansão do garimpo irregular. Ao mesmo tempo, a atividade movimenta trabalhadores que, em muitos casos, são submetidos a condições precárias de vida e de trabalho. A presença do Ministério Público do Trabalho e do Ministério do Trabalho e Emprego na operação reflete justamente a necessidade de abordar a questão sob múltiplos ângulos, indo além da simples destruição de equipamentos.
Outro ponto relevante é a cooperação entre diferentes forças de segurança e instituições do sistema de Justiça. A integração da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, da Força Nacional de Segurança Pública e do Judiciário, coordenados pelo Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, representa uma evolução no modo como o Estado brasileiro responde ao garimpo ilegal. A articulação entre órgãos amplia a capacidade de enfrentamento e aumenta as chances de enfraquecer a estrutura econômica que sustenta a atividade.
Entretanto, é necessário reconhecer que operações pontuais, embora importantes, não são suficientes para resolver o problema de forma definitiva. O garimpo irregular se alimenta de fatores econômicos, da demanda por minérios e da ausência de alternativas sustentáveis para comunidades que dependem direta ou indiretamente dessa prática. A repressão imediata interrompe a atividade, mas a longo prazo é preciso investir em políticas que conciliem proteção ambiental, geração de renda e fiscalização permanente.
As operações também têm efeito simbólico, ao reafirmar a autoridade da Justiça e o compromisso do Estado com o combate às práticas ilegais. Mas esse efeito só se consolidará se acompanhado de medidas estruturais. Caso contrário, novas dragas podem surgir no mesmo trecho do rio em poucos meses.
O desafio, portanto, é articular ações de curto, médio e longo prazos. No curto prazo, a destruição de dragas reduz o impacto imediato da mineração ilegal. No médio, é necessário intensificar a responsabilização de financiadores, receptores e articuladores da cadeia de garimpo. E, no longo prazo, deve-se construir alternativas socioeconômicas que evitem o retorno do problema.
A operação no Rio Madeira evidencia a complexidade do tema e a necessidade de respostas amplas. Combater o garimpo ilegal exige ação firme, mas também soluções que alcancem as raízes sociais, econômicas e ambientais dessa prática.
Diário da Amazônia