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A Associação Comercial e Industrial de Ji-Paraná (ACIJIP), em diálogo direto com produtores rurais, expositores, instituições financeiras, entidades representativas do setor produtivo e especialistas técnicos, vem, por meio desta carta aberta, manifestar preocupação e posição contrária à proposta de alteração da data da Rondônia Rural Show (RRS) do mês de maio para o mês de março. Nosso posicionamento baseia-se exclusivamente em critérios técnicos, econômicos e logísticos, reunindo fatos concretos que demonstram a inviabilidade e os impactos negativos de uma eventual mudança de data.
Destacamos, a seguir, os principais fundamentos que justificam a permanência da feira no mês de maio:
1. Clima desfavorável em março
Março é, historicamente, um dos meses com maior índice de chuvas em Rondônia. Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) apontam volumes que frequentemente ultrapassam os 300 mm nesse período. Esse fator compromete:
• A montagem e a segurança estrutural dos estandes;
• O deslocamento seguro de expositores, visitantes e máquinas pesadas;
• A atratividade do evento para o público geral e internacional.
Em contraponto, maio marca o início do período de seca, com condições climáticas mais favoráveis à realização de grandes eventos.
2. Conflito de datas com feiras nacionais e internacionais
Março concentra as principais feiras do agronegócio brasileiro, como:
• Expodireto Cotrijal (RS)
• Farm Show (MT)
• Show Safra (MT)
• Expoagro Afubra (RS)
A sobreposição com esses eventos impactaria diretamente a participação de grandes indústrias, fornecedores e compradores, reduzindo a competitividade e relevância da RRS no cenário nacional e internacional.
3. Prejuízo à participação internacional
A Rondônia Rural Show vem consolidando sua reputação como evento com alcance internacional. Delegações estrangeiras organizam sua agenda com antecedência, especialmente em razão da sobreposição de feiras no primeiro trimestre. Mudar a data comprometeria a vinda de representantes internacionais, limitando oportunidades de exportação e parcerias estratégicas.
4. Implicações legais e operacionais
A alteração da data da feira envolve alterações legislativas e obrigações regulatórias, incluindo a Lei Estadual nº 5.801/2024 e exigências do Corpo de Bombeiros. Considerando o período chuvoso, essas exigências se tornam mais rígidas e complexas, elevando custos e riscos.
5. Momento financeiro do produtor rural
Em março, o produtor ainda está colhendo, não concluiu a entrega de sua safra, tampouco liquidou suas CPRs e dívidas. Isso inviabiliza decisões de investimento em máquinas, equipamentos ou tecnologias, pois:
• Ainda não conhece o saldo financeiro real da safra;
• As instituições financeiras ainda não estão operando com as novas diretrizes do
Plano Safra;
• Os limites de crédito e cadastros não estão atualizados.
Em maio, esse cenário se transforma: o produtor já conhece sua realidade financeira, já tem acesso ao novo Plano Safra, e pode tomar decisões de compra concretas, com respaldo financeiro e logístico.
Veja também: Mudança na data da Rondônia Rural Show preocupa setor produtivo: entidades pedem diálogo antes de decisão
6. Efetividade comercial das negociações
Negócios iniciados em março tendem a ser incertos, sujeitos a renegociações e postergações de entrega. Já em maio, o produtor realiza compras planejadas, com entrega agendada conforme seu calendário produtivo. Isso fortalece a efetividade das vendas e dinamiza a cadeia produtiva local.
7. Vitrines tecnológicas comprometidas
A RRS é referência pelas suas vitrines tecnológicas com plantios de milho, girassol, pastagens e outras culturas. Esses cultivos possuem ciclos biológicos que precisam de tempo adequado para se desenvolverem. Antecipar a feira para março inviabilizaria a exibição dessas tecnologias, transformando a feira em um evento exclusivamente comercial, com prejuízo ao seu caráter educativo e de demonstração tecnológica.
8. Custo elevado de montagem e falta de infraestrutura permanente
Os custos para montagem de estandes têm crescido exponencialmente. Empresas investem entre R$ 500 mil e R$ 800 mil por edição, montando estruturas temporárias que
são desmontadas após poucos dias. A antecipação para março só aumenta esses custos pela imprevisibilidade climática. Há um consenso entre os empresários quanto à necessidade de infraestrutura permanente, a exemplo da Expointer (RS), o que tornaria o evento mais acessível e sustentável.
9. Infraestrutura logística deficiente e risco de colapso no estacionamento
A atual estrutura da feira não possui estacionamento asfaltado nem acessos pavimentados. Em episódios recentes de chuvas durante a feira, diversos veículos ficaram atolados. Caminhonetes, tratores e máquinas não conseguiam circular ou acessar o local, o que causou congestionamento e atraso nas atividades. Em março, essa situação tende a se agravar severamente, pois o solo encharcado impede até mesmo a limpeza com maquinário pesado. Isso representa um risco logístico real e iminente para expositores e visitantes.
10. Risco de público reduzido e prejuízo aos pequenos empreendedores
Outro fator preocupante é a redução do público urbano visitante em períodos chuvosos. Muitas famílias da cidade frequentam a feira para adquirir produtos de alimentação, artesanato, plantas, flores, peixes ornamentais e doces caseiros — setores que têm grande presença de pequenos produtores, associações e cooperativas. Se chover, esse público não comparecerá, o que pode representar prejuízos severos para os microempreendedores que mais dependem da feira como vitrine de vendas.
11. Sinergia com o calendário nacional de preços e lançamentos
A feira em maio ocorre logo após o feriado de 1º de maio, época em que as indústrias tradicionalmente divulgam os preços da nova safra. Essa sincronia permite ao produtor tomar decisões com base em informações atualizadas, fortalecendo a estratégia comercial e a previsão de compras.
Diante de todos esses fatores, apelamos ao bom senso das autoridades envolvidas na organização da Rondônia Rural Show, para que se mantenha a data tradicional do evento no mês de maio, como forma de garantir sua relevância, viabilidade econômica, participação internacional e efetividade para os produtores, empresários e visitantes. Contem com a ACIJIP para colaborar tecnicamente na construção de um evento cada vez mais forte, estratégico e com impacto positivo para todo o Estado de Rondônia.
Assessoria/ ACIJIP